quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

DAVI E SEU SUCESSOR




Texto Bíblico: 1 Crônicas 28.4-8

Um dos momentos-chave para o entendimento da Aliança Davídica é o do biênio em que ocorreu a “corregência” de Salomão no reinado davídico (1 Cr 23.1). Antes mesmo de esse filho de Davi nascer, Deus falou por intermédio do profeta Natã — que momentos antes havia incentivado Davi a dar consecução a um projeto de construir o Templo (1 Sm 7.1-3), mas precisou voltar com o anúncio de um oráculo totalmente distinto de sua opinião pessoal[i]: “Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então, farei levantar depois de ti a tua semente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha benignidade se não apartará dele, como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti” (2 Sm 7.12-15). 
Se a mensagem veio a Davi em forma de consolação por Deus o haver tolhido de consolidar o seu projeto, ela acabou sendo considerada uma verdadeira revolução em termos de Aliança do Eterno com a humanidade, pois, como poderá ser visto adiante, novamente o homem se depara com a possibilidade real de que o futuro será melhor que hoje.
Até pouco antes de assumir a corregência de Israel, Salomão não sabia nada acerca de tal assunto até que Davi o revelou em 1 Crônicas 22.9,10: “Eis que o filho que te nascer será homem de repouso; porque repouso lhe hei de dar de todos os seus inimigos em redor; portanto, Salomão [que é paz] será o seu nome, e paz e descanso darei a Israel nos seus dias. Este edificará casa ao meu nome; ele me será por filho, e eu a ele por pai; e confirmarei o trono de seu reino sobre Israel para sempre”. É oportuno notar que a mensagem original não continha o anúncio explícito de que seria Salomão, mas é preciso entender que Davi agora já tinha diante de si o “quadro geral” da revelação de Deus, algo muito diferente do que ouvira há aproximadamente vinte anos. Portanto, não se trata de acréscimo ou adição ao oráculo divino, mas interpretação lógica de Davi acerca do que Deus havia falado por intermédio de Natã em duas ocasiões (2 Sm 7.12-15 e 12.24,25), bastando apenas vê-las juntas.
Analisando a questão do ponto de vista político — pois se antes Israel “exigiu” de Deus um rei, por essa época a dinastia já não era mais vista com bons olhos por muitos israelitas[ii] —, Eugene Merril afirma que para “garantir que Israel obedeceria e aceitaria seu filho, Davi fez dele um co-regente em seu reino (1 Cr 23.1). Juntos, designaram os sacerdotes e levitas que serviriam no templo como cantores, porteiros e tesoureiros”.[iii] Em nota, o mesmo autor acrescenta que é importante ver 1 Reis 1.32-40 para uma descrição da unção de Salomão. A narrativa de 1 Reis 1 indica que a conspiração de Adonias para impedir a ascensão de Salomão ao trono (vv. 5-10) chegou ao clímax exatamente antes da cerimônia de coroação. Isso foi cerca de dois anos depois que Salomão tinha sido nomeado co-regente (1 Cr 23.1). Existem vários fatores que corroboram nossa teoria dos acontecimentos, que incluem um período de co-regência e uma clara ligação entre 1 Crônicas 29.22b com 1 Reis 1.32-40: (1) quando Salomão foi ungido, foi reconhecido como rei “pela segunda vez” (1 Cr 29.22b); (2) A unção de Salomão é mencionada apenas em 1 Crônicas 29.22b e 1 Reis 1.39, uma referência que surge exatamente depois da rebelião de Adonias; (3) ambos os relatos da coroação mencionam Zadoque. 
Embora não estivesse ligado a qualquer uma das cerimônias de unção, o próprio sacerdote Zadoque é ungido na ocasião quando Salomão foi ungido (1 Cr 29.22b). De fato, 1 Reis descreve que Zadoque se torna o chefe dos sacerdotes segundo o mandato de Salomão, depois da morte de Davi (2.35).[iv] 
Acerca de alegações que visam negar a existência de um intervalo de tempo entre 1 Crônicas 29.22b, é imprescindível lembrar-se, como já foi abordado no capítulo 4, que a intenção de tais textos não é oferecer uma cronologia dos fatos, antes a questão teológica é o que pesa muito mais, e que jamais podemos ver os textos escriturísticos assim como as prosas modernas e lineares que conhecemos atualmente. A importância desse saber é que dele depende a correta interpretação e exegese bíblicas.



NOTAS

[i] Isso atesta e comprova mais uma vez a verdade escrita em 1 Pedro 1.19-21, de que muitas vezes a própria opinião do profeta ou hagiógrafo era até mesmo contrária à mensagem que Deus colocava em sua boca ou pena. 
[ii] Ibid., p. 304. Eugene Merril afirma que a “impressão comunicada pelo cronista é que a transferência de poder de Davi para Salomão ocorreu tranquilamente e sem qualquer oposição. Mas este não foi o caso, como o escritor de 1 Reis esclarece. O cronista normalmente estava interessado em resultados básicos, não nas circunstâncias ou ações pelos quais se concretizavam. Isso é verdadeiro especialmente em relação à área política, pois o cronista preocupava-se primariamente com as questões do templo e do culto” (p. 296).
[iii] Ibid., p. 261.
[iv] Ibid., p. 261, 262.
CARVALHO, César Moisés. Davi. As vitórias e as derrotas de um homem de Deus. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.212-14.

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