Por Francisco A. Barbosa
TEXTO ÁUREO
"Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor" (2 Co 12.1). |
Nesta perícope Paulo dá continuidade a sua ‘jactância’ revelando uma experiência com Deus inesperada e inigualável onde relata a visão celestial. Sua narrativa contém alguns elementos inesperados. Paulo não teve permissão de repetir as coisas ouviu na visão e mais tarde ele recebeu um espinho doloroso enviado por Deus para mantê-lo humilde. Nesta lição, estudaremos a respeito das visões e revelações que o apóstolo Paulo recebeu do Senhor Jesus. Trataremos também sobre o seu "espinho na carne". O objetivo de Paulo ao relatar suas experiências com Deus não era vangloriar-se. Ele já havia dado provas suficientes de sua humildade e nobreza de caráter. Sabemos que o propósito de toda provação não é a fraqueza ou humilhação do crente, mas sim o seu aperfeiçoamento, pois quando estamos fracos, buscamos a Deus com mais intensidade, permitindo que Ele nos preencha com seu poder. |
VERDADE PRÁTICA
As experiências espirituais são importantes, mas não devem ser o principal requisito para o reconhecimento ministerial de um obreiro.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
2 Coríntios 12.1-4,7-10,12
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Compreender que a glória maior de Paulo não está em sua biografia e sim no sofrimento padecido por causa do Evangelho.
Saber que nem a igreja nem crente algum pode depender de experiências sobrenaturais, como visões, revelações e arrebatamento de espírito para conhecer a vontade de Deus.
Explicar o paradoxo do gloriar-se nas fraquezas.
PALAVRA-CHAVE
Experiência |
(latim experientia, -ae, ensaio, prova, tentativa); s. f. 1. Ato! de experimentar. 2. Ensaio. 3. Tentativa. 4. Conhecimento adquirido por prática, estudos, observação, etc.; experimentação. homem de experiência: homem conhecedor das coisas da vida. |
COMENTÁRIO
(I. INTRODUÇÃO)
No mito de Ícaro, da mitologia grega, Dédalo confecciona dois pares de asas – um para si e outro para Ícaro, seu filho – feitas de penas e cera para que possam fugir do labirinto onde foram aprisionados. Ícaro fora advertido por seu pai para não voar tão rente ao sol, pois o calor derreteria a cera, nem tão rente ao mar, pois a umidade deixaria as asas mais pesadas levando-o a cair no mar. O filho, no entanto, possivelmente inebriado pelas novas potencialidades fornecidas pelo seu novo aparato se aproximou demais do sol ocasionando o derretimento da cera e sua queda no mar. Analogamente, este mito tem muito a nos dizer a respeito de novas situações encontradas hoje, de um modo geral, na igreja, particularmente relacionadas à visões e revelações, experiências do campo das manifestações espirituais que não se constituem em doutrinas, mas são possíveis à vida do crente. Paulo travou uma batalha para reafirmar sua condição de apóstolo e nessa situação, se viu obrigado a responder que tinha ainda mais razões do que eles para orgulhar-se, mas não faria isso. Preferia gloriar-se em relação às suas fraquezas, as quais o poder de Deus havia convertido em experiências gloriosas (12.9,10). Que exemplo para nós! Hoje, estamos acostumados a avaliar os crentes pelo grau de ‘poder’ e pela quantidade de ‘experiências’. Muitos obreiros, a exemplos dos opositores de Paulo, estão como aquele filho de Dédalo, do mito, inebriados pelas novas potencialidades, jactânciam-se daquilo que foi-lhes dado não para proveito próprio, mas para edificação do Corpo. Nesse vôo do orgulho correm o risco de suas potencialidades não servirem para coisa alguma. "De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo". Apóstolo Paulo. (REFLEXÃO)
(II. DESENVOLVIMENTO:)
I. A GLÓRIA PASSAGEIRA DE SUA BIOGRAFIA (VV.11-33)
1. A glória maior de Paulo não está em sua biografia, e sim no sofrimento padecido por causa do Evangelho. Paulo foi obrigado pelos opositores a jactar de suas fraquezas como apóstolo, porque a isso os crentes de Corinto o haviam compelido, quando, apesar de o conhecerem bem, não o tinham defendido contra os falsos apóstolos, mas, pelo contrário, haviam sido seduzidos por destacadas reinvidicações e por falsas críticas contra Paulo.
2. Paulo se opõe à arrogância dos judeus-cristãos. Alguns tinham resistido à autoridade de Paulo, pois estavam relutantes em abandonar o comportamento ímpio.
3. Paulo responde contrastando os falsos mestres. Com muita relutância e depois de diversos protestos relacionados com a tolice do gesto, Paulo começa a jactar-se de suas experiências como servo de Cristo. Ironicamente, ele concentra a atenção em experiências que muitos (antes e agora) considerariam sinais de fraqueza, não de força. A glória maior de Paulo não está em sua biografia e sim no sofrimento padecido por causa do Evangelho. SINOPSE DO TÓPICO (1)
II. A GLÓRIA DAS REVELAÇÕES E VISÕES ESPIRITUAIS (12.1-4)
1. Visões e revelações do Senhor (12.1). Paulo admite que não convém gloriar-se, mas uma vez como se faz necessário responder aos seus opositores que o acusavam de falta de experiências de caráter espiritual, ele então apela a uma das suas experiências e usa o grego apokalupisis’, desvelar coisas não conhecidas antes e as quais Deus tão somente poderia tornar conhecidas. Por ser a igreja coríntia propensa à supervalorização do sobrenatural (1 Co 14) – qualquer semelhança com a igreja atual é mera coincidência - os falsos apóstolos (que se autojulgavam superespirituais) acabaram – e acabam - ganhando a sua simpatia. Paulo realmente tinha motivos para gloriar-se de suas experiências com Deus, afinal, gozou como Enoque, Elias e João, o arrebatamento até ao terceiro céu. "Paulo considerava como maior glória para si os seus sofrimentos, enfermidades, prisões, açoites, fomes e perseguições". REFLEXÃO
2. O "Paraíso" na teologia paulina (12.2-4). Paulo foi proibido de repetir o que ouviu assim como João foi ordenado a selar e não escrever o que os sete trovões falaram (Ap 10.4), talvez por não haver palavras para mensurar e descrever a visão ou por ser as palavras demasiadamente sagradas para que Le as conseguisse repetir.
3. A atualidade das experiências espirituais. Qual a finalidade de experiências como essa? O que isso acrescenta na vida do crente? Esse grande privilégio e revelação concedidos a Paulo tiveram um fim em si: o fortalecimento espiritual do apóstolo para suportar as agruras de sua caminhada em prol do Reino. De fato, cremos que Deus tem capacitado a muitos na igreja a fim de fortalecer e capacitar os crentes a suportar os sofrimentos prolongados e severos que sobrevierem na caminhada. Entretanto, essas experiências não são uma regra doutrinária para dirigir a igreja e nem mesmo a vida de uma pessoa. Há ainda que se pesar sua congruência com a Palavra e por isso, o crente não pode viver à mercê de visões e revelações como tem acontecido não raramente em nosso meio. Não podemos confundir experiências sobrenaturais como ‘visões, línguas, profecias, revelações e arrebatamento de espírito’ com ‘vida cheio do Espírito’. Muitos entre nós estão inebriados e correm o risco, como Ícaro, de sucumbir nessa caminhada. É preciso ter cuidado com a presunção de alguns em fazer viagens ao paraíso, seja comandada por homens seja por anjos, pois tais "experiências" na maioria das vezes constitui-se em fraudes espirituais. O Espírito de Deus pode trabalhar e revelar a vontade divina através de sonhos e visões. SINOPSE DO TÓPICO (2)
III. A GLÓRIA DOS SOFRIMENTOS POR CAUSA DE CRISTO (12.7-10)
1. O espinho na carne (12.7,8). Essa expressão de Paulo não nos deixa muito para apontar com precisão o que seria. Alguns acham que era uma incapacidade física, tal como gagueira, epilepsia ou visão fraca. Outros acham que se refere ao sofrimento emocional resultante de ele não ter ganhado os judeus para Cristo da forma que ele desejava. Outros, ainda, que seria uma tentação recorrente, tal como ganância. Sabemos que o ‘mensageiro do Adversário’ – seja lá o que isso signifique – foi enviado por Deus (a providencia divina claramente permitiu isso – gramaticamente, um ‘passivo divino’, indicando Deus como o agente invisível supervisionando todo o processo) que lhe foi imposto por causa das revelações, a fim de ele não se exaltasse pelas excelências das revelações (eis o recado de Paulo para os ‘superapóstolos’ hodiernos: Ai daqueles hoje que andam voando perto demais do sol e/ou do mar...).
2. Paulo reafirma que se gloria na fraqueza (12.10). Paulo considera como bênção ser esbofeteado por Satanás, quer diretamente como adversário destrutivo ou indiretamente como agente controlado por Deus para realizar o desenvolvimento do caráter, ele pode se gloriar de suas fraquezas, pois a graça e poder lhe bastavam para permitir que ele continuasse em seu ministério apostólico. Ele pode, portanto, sentir prazer porque, quando está pessoalmente fraco, ele pode ser forte em Jesus.
3. A explicação do paradoxo do gloriar-se nas fraquezas (12.9,10). Que glória há em sofrer? Na mente dos coríntios (e também de muitos crentes hoje, corrompida pelos ensinamentos deturpados), os verdadeiros apóstolos deveriam ser conhecidos por suas palavras convincentes, carisma e demonstração de ‘poder’. A visão espiritual de Paulo foi tão clara que ele podia ver seus sofrimentos como razões para regozijar-se, porquanto sabia que em todos eles o poder de Cristo estava atuando. Paulo ensina que o sofrer se constitui num degrau para chegar à presença de Deus. SINOPSE DO TÓPICO (3)
(III. CONCLUSÃO)
O Senhor tem uma didática interessante. Deus realiza os seus propósitos sem tirar de seus servos o espinho – seja ele qual for. Apesar das debilidades humanas, a graça de Deus atinge seus propósitos em um mundo decaído. Essa promessa de Deus a Paulo garantindo-lhe sua graça e poder nos encoraja e nos confere forças em meio aos sofrimentos com os quais somos esmurrados por Satanás. Ao escrever sobre as suas fraquezas, Paulo tinha a intenção de glorificar a Deus, porquanto somente Ele é capaz de aperfeiçoar seu poder através da fragilidade humana. Conforme criam alguns – ou crêem alguns – as credenciais do apostolado eram simplesmente sinais, prodígios e poderes miraculosos. No entanto, Paulo aponta para outros sinais que o distinguia dos pseudoapóstolos: as vidas transformadas dos crentes de Corinto (3.2-3), o caráter ilibado de seu ministério, seu amor genuíno pelas igrejas e o pesado fardo que lhe foi imposto pelo Senhor – os sofrimentos. Certamente sinais miraculosos acompanharam o ministério de Paulo, mas ele não se demora expondo sobre eles, para Paulo, vale mais uma vida de santidade e amor do que demonstração de ‘poder’.
APLICAÇÃO PESSOAL
A fé escolhe crer na Palavra de Deus acima da evidencia dos sentidos, sabendo que as circunstancias naturais devem ser mantidas sujeitas à Palavra de Deus. A fé não está negando as circunstancias; pelo contrário, está crendo no testemunho de Deus e vivendo em concordância com o mesmo. Paulo deixa isso bem claro ao afirmar que sua jactância está em sofrer por Jesus. Que lição para os crentes de hoje! Dependemos inteiramente do Senhor para caminharmos bem a carreira nos foi proposta. Jamais deveremos nos exaltar ou gloriar pelos dons, pelas experiências espirituais. Um câncer está devorando a Igreja. Se ele não for extirpado agora, as conseqüências serão catastróficas. A influência de doutrinas falaciosas que só trazem confusão e instabilidade espiritual precisa ser cortada. Muitos há que professam a Cristo como Salvador mas assumem uma postura distorcida em relação ao que significa ser cristão. Sob a égide de um evangelho nitidamente místico, milhões estão sendo ludibriados e impedidos de viverem realmente uma vida com abundancia. Verdades eternas tiradas da Palavra de Deus estão sendo pervertidas. Estou sendo demasiadamente grosseiro? Leia as afirmações de alguns ícones do gospel: “Satanás venceu Jesus na cruz” – Kenneth Copeland; “Você não está olhando para Morris Cerullo – você está olhando para Deus, está olhando para Jesus” – Morris Cerullo; "Deus precisa receber permissão para trabalhar neste reino terrestre em favor do homem... Sim! Você está no controle das cisas! Assim, se o homem detém o controle, quem deixou de exerce-lo? Deus” – Frederick K C Price. Nenhum dos superapóstolos atuais podem jactar-se, como Paulo o fez, de suas fraquezas, pelo contrário, o fazem de suas supostas potencialidades, assim mesmo como faziam os adversários de Paulo em Corinto, e assim mesmo como no mito de Ícaro, inebriados com seus delírios, sucumbirão. A palavra-chave da lição de hoje é “experiência” (adquirido por prática, estudos, observação, etc.; experimentação. homem de experiência: homem conhecedor das coisas da vida), carecemos de experiência com Deus, que nos dê força e coragem para suportarmos as dificuldades da caminhada, mas precisamos acima de tudo, aprendermos a depender unicamente da graça e poder divinos.
Já ouvi muitos ‘sermões’ baseados no tema ‘Paulo e o espinho na carne. Fiquei pasmo quando li em um artigo que o espinho era o homossexualismo – que injuria! – em outro, discorria o autor: ‘era uma doença nos olhos...’; Muitas pessoas pensam que o espinho era epilepsia, outros acham que era febre, e ainda outros que era dor de cabeça aguda.Mas, o que era o espinho de Paulo?A expressão espinho na carne é usada no Antigo e no Novo Testamento apenas como ilustração. A figura do espinho na carne não se emprega nenhuma vez na Bíblia como uma figura de enfermidade. Todas as vezes que esta expressão é usada na Bíblia declara-se especificamente o que era o espinho na carne. Em Números 33.55, a expressão espinho nos vossos olhos ilustrava os habitantes de Canaã. Em Josué 23.13, refere-se às nações pagãs de Canaã (os cananeus). Nesses dois casos, a Bíblia afirma claramente o que eram esses espinhos na carne. Em ambos os casos, os espinhos eram personalidades. Paulo declara com a mesma clareza o que era seu espinho. Ele diz que era um mensageiro de Satanás ou, conforme outros tradutores, o anjo do diabo, anjo de Satanás etc. A ilustração espinho na carne refere-se a uma personalidade, a um mensageiro de Satanás. A palavra mensageiro é traduzida da palavra grega angelos que aparece 188 vezes na Bíblia. É traduzida por anjo 181 vezes e 7 vezes por mensageiro. Em todas as 188 vezes na Bíblia inteira, sem exceção, trata-se de uma pessoa e não de uma coisa. O inferno foi preparado para o diabo e seus anjos, ou mensageiros (Mt 25.41), e o espinho na carne de Paulo era um desses mensageiros do diabo. Paulo o definiu assim. Os pregadores e mestres têm imaginado que o espinho na carne de Paulo pode ser tudo, desde uma doença oriental - oftalmia até uma esposa não-convertida! Parece-me tão irracional especular sobre o que era o espinho na carne, já que o próprio Paulo declara exatamente o que ele era - um mensageiro de Satanás.
N’Ele, para que a prova da nossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo (1Pe 1.7),
Francisco A Barbosa
assis.barbosa@bol.com.br
BIBLIOGRAFIA PESQUISADA
- HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Novo Testamento. 1. ed. Rio de Janeiro, CPAD, 2008.
- Bíblia de Estudo Pentecostal, Rio de Janeiro, CPAD;
- Bíblia de Estudo Plenitude-SBB, nota e palavra-chave v.2Co 9.7, pág 1207;
EXERCÍCIOS
RESPONDA
1. O que é o paraíso segundo a teologia paulina?
R. É um lugar celestial onde os santos comungam com Deus.
2. A que se refere a expressão espinho na carne?
R. Refere-se a um tipo de sofrimento.
3. Qual era o propósito do espinho na carne de Paulo?
R. Para que ele não se ensoberbecesse diante das revelações e visões.
4. Qual era a intenção de Paulo ao chamar a atenção dos coríntios para seus sofrimentos?
R. O sofrer constitui-se num degrau para chegar-se à presença de Deus.
5. Qual a mensagem principal que você extraiu da epístola de 2 Coríntios?
R. Resposta pessoal.
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